NÃO # Antonio Cabral Filho - RJ


NÃO



Não posso me sentar
Na poltrona macia do teatro
Com ar refrigerado
Para ouvir música clássica
Tocada por uma orquestra
Também clássica,

Enquanto meu povo
Rasteja por um pedaço de pão
E meus irmãos de luta
Padecem no desemprego
E nossos dirigentes nos vendem
No balcão da luta de classes.

Não.
Não posso me jogar
Na poltrona de couro
Do Teatro Municipal
Com o mais elevado conforto
Para ouvir a Orquestra da Petrobrás
Tocar “Aquarela Brasileira”,

Enquanto na Bolsa de Valores
Leiloam a preço mínimo
O patrimônio do meu país
E centenas, talvez milhares
De irmãos de classe
Sentem o bafo da fome
Bater-lhes na face.

Não.
Não posso sentar-me
Entre os vendidos
A peso de ouro
A lotar teatros –
Os chamados teatrões –
E bater palmas, dar “urras!”
Ao som de Bach, Ravel, Beethoven,
Feliz, como cão e osso,


Alheio às dores da desigualdade
Que cobrem meu país
Com suas mortalhas rubras....
Não!
Eles terão que esperar....

***

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